Diálogo entre as tribos

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

por Hosana Souza


Um dos temas mais discutidos na Pré-Conferência Municipal de Cultura – matéria que pode ser relembrada http://culturani.blogspot.com/2009/10/roda-cultural.html#more  – foi o mapeamento das ações culturais do bairro, e sua divulgação. Foi aí que a comunidade artística de Nova Iguaçu tomou conhecimento do trabalho que Rafael Anízio, um morador de Miguel de 32 anos, começou a fazer em 2006.

Quando começou a recolher nome, idade, telefone, atividades e eventos desenvolvidos pelos artistas e grupos da sua região, a pretensão de Anízio era montar uma agenda onde as atividades de Miguel Couto fossem evidenciadas, colocando a cidade de Nova Iguaçu no calendário cultural do estado.morador de Miguel Couto

O banco de dados foi construído e assim descobertos grupos de teatro, pagode, rock, funk, forró, alem de compositores, escritores, poetas e artesões. “Entrei em contato com os grupos e nós fizemos o levantamento dessas tribos e das atividades que elas promovem. Queríamos que isso se expandisse para outros bairros e consequentemente montar um calendário de atividades e expressões em Nova Iguaçu, não apenas para os visitantes, mas principalmente para os iguaçuanos”, conta Rafael.

Com o mapeamento de Miguel Couto foram descobertos mais de trinta grupos musicais e artistas que levam seu trabalho de forma independente. Um desses grupos é a Companhia Teatral Povo de Deus, que há oito anos encena a Paixão de Cristo na Paróquia São Miguel Arcanjo, igreja católica local, reunindo vários fiéis e admiradores não apenas do bairro. Rafael também catalogou o grupo Clássicos Show, idealizado por moradores e que existe há quatro anos, hoje se apresentando todos os fins de semana na Feira de São Cristóvão. “É triste perceber que nós não conhecemos o que é nosso. Os nossos artistas têm de se deslocar porque aqui não existe um espaço para que eles mostrem sua cultura”, comenta Jéssica Cristina, 17 anos, estudante e moradora de Miguel Couto.

Antes do mapeamento, o cenário conhecido pela maioria dos moradores de Miguel Couto era apenas o dos bailes funks que ocorriam nos finais de semana, mas, com a pesquisa e a participação da comunidade, hoje se tornou mais fácil acompanhar as atividades gerais do bairro, como os saraus apresentados em igrejas protestantes, eventos na Escola Livre de Cinema, apresentação de grupos de pagode às quartas-feiras e a reunião dos jovens roqueiros na praça local aos sábados.

“Nós queríamos o auxilio do poder público, e que nossa idéia fosse implantada em vários lugares, como Comendador Soares, Austin, Cabuçu, mostrando, assim, a expressão cultural da cidade. Infelizmente, algumas promessas não foram cumpridas, os grupos continuam caminhando de forma independente e Nova Iguaçu ainda não nos valoriza, não contribui para a montagem de um evento ou de um grande trabalho”, lamenta Rafael.

Além de catalogar novos grupos, o mapeamento promoveu o diálogo entre eles. “Até aquele momento as tribos existentes não se comunicavam, não se conheciam. Durante uma reunião, alguém começou a rir e falou: ‘Nossa, eu nunca tinha conversado com um roqueiro’. E de repente um membro do grupo de pagode comentou: ‘E eu, que nunca pensei que fosse escutar forró’”, relembra Rafael. Com isso, os grupos da região passaram a se respeitar e hoje percebem que, embora não gostem do mesmo estilo de música, têm coisas em comum.

Da época do mapeamento só restaram dois grupos de música (antes eram oito) e dois de teatro (antes quatro). Artesões, poetas, grupos populares e membros de igrejas, ninguém foi esquecido, mas o próprio Rafael admite que a lista está desatualizada, passados três anos do mapeamento das atividades culturais de Miguel Couto. “Nós vamos agora atualizá-la, ver que grupos morreram, quais artistas novos surgiram. Creio que seja importante esse legado. Isso é a historia de Miguel Couto, a cultura de Nova Iguaçu”, encerra Rafael.

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