Vento X9

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

por Fernanda Bastos da Silva e Edson Borges Vicente


O tradutor de poesias” é uma adaptação do conto homônimo do escritor Eustáquio José Rodrigues, publicado no livro "Cauterizai meu umbigo". Ele conta a história de um misterioso forasteiro que chega a uma pacata colônia de pescadores, com o dom de comunicar-se com os animais e escutar a mensagem dos ventos. São esses ventos que lhe revelam as ‘poesias’ dos encabulados moradores da vila, que ele passa a extorquir.

A adaptação foi feita por Eugênio Santos, 61 anos e quarenta dedicados ao teatro, que também dirigiu o espetáculo. A peça reuniu os integrantes dos grupos Multiface e Língua Afiada, que participavam de um grupo de estudos na Escola de Teatro do Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões do Estado do Rio de Janeiro (Sated). Essa foi a quinta da peça, de um total de dez previstas pelo convênio assinado com a Secretaria de Cultura do Estado do Rio de Janeiro. O projeto foi elaborado por Mário Marcelo, diretor do grupo Multiface e atual secretário do Sated.

O espetáculo conta com dois atores iguaçuanos: Deusa Brito, 48 anos, e Felipe Vilhena, 24 anos. Deusa faz a espevitada Duína, acusada de manter um caso com o padre da cidade. Radicada em Nova Iguaçu desde os oito anos, a atriz Deusa Brito estava participando pela segunda vez do Encontrarte. A outra vez foi com a peça “Os Cigarras e as Formiguinhas”, de Mario Marcelo, na edição do ano passado. "Sinto-me gratificada ao perceber que o teatro está sendo valorizado na Baixada", confessa ela, que tem uma sobrinha de doze anos já envolvida com teatro.

Palhaçada

por Fernanda Bastos da Silva e Edson Borges Vicente


Se dependesse apenas dos pequeninos do Jardim Escola Doce Mel, no Centro de NI, o teatro do Espaço Cultural Sylvio Monteiro já estaria lotado durante a peça ‘A Incrível viagem da Família Aço’, apresentada no último dia 2 de outubro. A responsável por isso foi Maira Gurgel, 32 anos, diretora da escola que levou consigo nada menos que 62 crianças e 11 funcionários, entre motoristas, professores e voluntários. “Geralmente, eu levo as crianças para os eventos musicais, dançantes e teatrais do SESC", conta a diretora. "É a primeira vez que venho com eles aqui no Espaço Cultural Sylvio Monteiro".
As crianças adoraram os palhaços - e vibraram tanto que apenas duas delas choraram no inicio do espetáculo. Contudo, os atores tiveram a presença de espírito necessária para cessar o choro da dupla e arrancar todas as gargalhadas dos pequenos da platéia. Foi assim até o final da peça, quando a maioria das crianças subiu ao palco para tirar fotos com os palhaços.

Raciocinando

por Fernanda Bastos da Silva e Edson Borges Vicente


Os jovens Aldebaram Oliveira, 18 anos e Alex Teixeira, 22 anos, que formam a Companhia de Teatro Racionais, convocaram os espectadores do Encontrarte 2009 a refletir sobre dois temas muito polêmicos: o racismo e o preconceito. Na performance do dia 30 de setembro, eles encarnaram o músico popular João e o polêmico apresentador Paulo Cidade no espetáculo “Intervalo”. A peça trata a distinção de tratamento entre o apresentador ‘Paulo Cidade’ (Aldebaram) do programa com mesmo nome e o cantor de samba João das Candongas (Alex).

Durante o intervalo, por trás das câmeras, o apresentador demonstra ser muito preconceituoso com o sambista. Porém, para defender a tese da decantada democracia racial brasileira, ele aponta outras formas de preconceito de que até mesmo o cantor não consegue se livrar. Durante a apresentação, os atores desencarnam dos personagens para interagir com público e buscar uma reflexão.

A Cia. Racionais, formada exclusivamente para o festival, reúne um estudante de direção teatral da Escola de Belas Artes da UFRJ (Aldebaram) e um jornalista recém-formado (Alex). Os dois se conheceram há dez anos, quando estudaram na atual Escola Municipal de Teatro Jornalista Tim Lopes no Centro Cultural de Nilópolis. Eles já realizaram trabalhos conjuntos, porém nunca haviam contracenado. Para Alex, a performance foi “a oportunidade” que surgiu para que a dupla pudesse participar do evento.

Primeira visita ao sítio

por Hosana Souza e fotos de Marcele Pontes


Assim pode ser definido o nono dia do ENCONTRARTE: uma manhã e várias histórias. O espetáculo estava com vinte minutos de atraso, o hall de entrada para o teatro do Sesc estava lotado, como em todas as seções do festival. Passeando pela multidão, vejo crianças com o uniforme azul e colarinho laranja característico de nosso município, e suas professoras que contavam e recontavam os alunos, por medida de segurança. Vi os produtores do evento em estado de semipânico, correndo com aparelhos de som, celulares, rádios, máquinas fotográficas e o banner do festival. Observei as normalistas sentadas conversando; mães e avós tentando conter a ansiedade de seus pequenos; crianças e adolescentes com uniforme da prefeitura de Itaguaí.

Crianças e adolescentes com uniforme da prefeitura de Itaguaí? Sim, o VIII Encontro de Artes Cênicas vai além da Baixada. O estudante Mateus Viana, de 12 anos, nos explica como foi para os alunos da Escola Municipal Wilson Pedro Francisco chegarem ali: “A nossa escola é em tempo integral, e nós temos aula de teatro – entre outras coisas. Há um tempo, o professor Manoel – que não pôde vir hoje – vem tentando levar atores lá durante a tarde para conversar conosco. Como ele não havia conseguido, e pela internet ficou sabendo do Encontrarte, agendou e estamos aqui. É o nosso segundo dia e talvez fiquemos até à noite. Estou adorando o evento. Inclusive fomos convidados a dar uma entrevista ao pessoal da produção antes de voltar”, disse o adolescente com um sorriso de satisfação.

Poesia da morte

por Jéssica Oliveira

A Cia. Teatral Entreato encerrou nesta sexta-feira, 02 de outubro, a programação de espetáculos do VIII Encontro de Arte Cênicas da Baixada Fluminense, o EncontrArte, com a peça A Incrível Viagem da Família Aço. Com texto de Lú Gatelli, também intérprete do personagem principal, a história trata de um assunto delicado e de difícil abordagem, principalmente quando envolve crianças: a morte de um familiar.
O espetáculo conta a história de uma família de palhaços - Pai Aço (Marcelo Gatelli), Vovózaço (Lígia Dechen), Vovôzaço (Richard Goulard) e o personagem central, Aço Júnior, um palhacinho que, no dia do seu aniversário, pede ao pai um presente que, infelizmente não pode receber: ele quer reencontrar sua mãe.
Com o desenrolar da história, o público percebe que a mãe do pequeno palhaço já não pode estar ao seu lado, pois ela faleceu. Entretanto, a história se complica ainda mais quando se nota que, por ser um assunto difícil de ser tratado com crianças, a família Aço não contou a verdade a Júnior.

 
 
 
 
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