Paixão e barriga de fora

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

por Jefferson Loyola e Michelle Ribeiro


Tudo levava a crer que a culminância da Escola Municipal Monteiro Lobato, na última sexta-feira, seria um caos. Faltavam recursos para confeccionar as roupas das meninas que iam dançar e criar os cartazes nos quais seriam colados os trabalhos feitos pelas crianças ao longo do segundo semestre, todos eles baseados nos contos e crônicas dos escritores Malba Tahan e Câmara Cascudo.

No entanto, a união dos monitores do Mais Educação, mediadores da SEMCTUR e dos próprios professores conseguiu resolver quase todos os problemas surgidos ao longo do processo de ensaio das peças e coreografias apresentadas pelas crianças. Até mesmo as crianças mostraram boa vontade e espírito de cooperação, sacrificando-se para cobrir faltas de última hora. O único problema que não conseguiram resolver foi o CD com as músicas utilizadas na culminância, cujo atraso quase comprometeu toda a programação.

Muitas coisas em comum

por Jefferson Loyola


Câmara Cascudo, antropólogo, historiador, folclorista, jornalista brasileiro, escritor e professor, passou a vida em Natal, dedicando-se ao estudo da cultura brasileira. Malba Tahan, escritor e matemático, foi o maior divulgador dessa árida matéria no Brasil através de seus romances. Olha-se o perfil de um e depois de outro, e, quando comparados, muitos os acham diferentes: Câmara Cascudo lida com a língua portuguesa e Malba Tahan, com números e cálculos. Apesar disso, os dois têm muitas coisas em comum. Ambos contribuíram para a formação da cultura portuguesa e matemática no país.

Os contos dos dois autores, que ao longo do segundo semestre inspiraram as oficinas culturais do Bairro-Escola, também estão sendo usados nas culminâncias de fim de ano das escolas da rede municipal de Nova Iguaçu, que em sua maioria atendem crianças do 1º ao 4º anos. A realização das culminâncias foi uma interação não somente de Malba Tahan com Camara Cascudo, mas também uma parceria dos mediadores da SEMCTUR e dos monitores do Mais Educação com a SEMED. A maioria das culminâncias ocorreu ao longo da última sexta-feira, 4 de dezembro.

Culminância com quibe e tapioca

por Mayara Freire


Na Escola Municipal Edna Umbelina, na Palhada, a festa de fim de ano, que aconteceu na última sexta-feira, foi uma alegria. As crianças do primeiro ao quinto ano mostraram satisfação ao espalhar pelos corredores da escola os trabalhos realizados durante todo o ano, baseados nos escritores Malba Tahan e Câmara Cascudo. Todos os ambientes estavam bem decorados: cartazes com contos e biografias dos autores, tapete com pinturas e folhagens, bem como os camelos e coelhos sempre presentes na obra desses autores que permitiram explorar a matemática e o português de forma dinâmica na rede municipal de Nova Iguaçu. Duas salas foram destinadas para mostrar o universo de cada autor. Separados em dois horários, de manhã e a tarde, 700 alunos puderam expor toda sua afeição com os contos, além do benefício que trouxeram ao ensino.

Segundo a mediadora Elizangela Fortunato, as crianças não apenas gostaram muito das histórias, como aumentaram o rendimento em uma matéria árida como matemática por intermédio das histórias do livro ‘O homem que calculava’, de Malba Tahan. “Trabalhamos a fração com a história de dividir pães”, conta ela, que coordenou a criação de brinquedos como boliche, dados e tabuleiros para facilitar o aprendizado. Mas não foram apenas as crianças que se encantaram com o imaginário árabe do autor, repleto de camelos atravessando a aridez dos desertos. “Me apaixonei pelas histórias”, confessa a mediadora, gratificada com o resultado final.

Um mar de possibilidades

por Josy Antunes


No início de 2008, quando ainda era uma normalista de 17 anos, Nova Iguaçu foi tomada por outdoors de uma tal “Escola Livre de Cinema”. No caminho para o Instituto de Educação Rangel Pestana, no centro da cidade, de dentro do ônibus repleto de outros estudantes de instituições públicas, me inclinei quando avistei um desses imensos convites para o ingresso na ELC. Na pequena sala de leitura da escola, amigas de saias de pregas e lenço no pescoço combinavam o comparecimento ao dia da seleção do curso: que, apesar de inaugurado em 2006, para nós emanava o cheiro de novidade.

Foi na minha primeira visita à escola de muros vermelhos, em Miguel Couto – no dia da seleção, após ter passado algum tempo, com cara de boba, admirando a estrutura externa construída com bicicletas – que ouvi o nome “Marcus Vinícius Faustini”: cineasta, diretor teatral e diretor da Escola de Cinema. Na grande reunião, foi-nos garantido que, mesmo aqueles que não fossem selecionados para o curso, teriam os contatos agregados à bolsa de informações do local. Ou seja: teríamos acesso a novidades de cursos e oficinas ligados ao audiovisual.

Dias depois, fui convocada para as oficinas dos “Coletores de imagens”, que seriam realizadas aos sábados, no SESC de Nova Iguaçu, juntando jovens e idosos na produção de um documentário sobre “O ano em que eu nasci”. Foi lá que, de fato, conheci Faustini, que ministrava as oficinas ao lado de nomes como Valquíria Ribeiro, Raul Fernando e Gregório Mariz. Quando ouvi a exclamação “Para de fazer poesia, porra”, direcionada a mim, vinda daquele atípico “professor” de modos estranhos, que sentava com os pés sobre a cadeira, alisava a barba e fazia citações confusas, não imaginava que estava perante o primeiro dos “Faustinis” que conhecia.

 
 
 
 
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