Instrumento de desenvolvimento

quarta-feira, 10 de março de 2010

por Jefferson Loyola

A produtora cultural Adriana Rattes, secretária estadual de Cultura do Rio de Janeiro, passou horas no engarrafamento que praticamente paralisou a Linha Vermelha na chuvosa noite da última quarta-feira, quando veio lançar o PADEC em Nova Iguaçu. Apesar do estresse, ela não havia esquecido nem sua simpatia nem sua simplicidade quando entrou no teatro do Espaço Cultural Sylvio Monteiro para discutir com a classe artística de Nova Iguaçu os possíveis usos da verba de R& 450 mil que a cidade receberá até julho, para investir em cultura.

“É uma honra ser recebida com palmas, apesar do meu atraso", disse ela enquanto cruzava as pernas na cadeira um pouco à frente da mesa armada no palco do teatro, onde durante algumas horas o escritor e cineasta Marcus Vinícius Faustini fez um balanço de sua gestão e Renato Dantas explicou o alcance e o funcionamento do PADEC. Um dos primeiros esclarecimentos feitos por Adriana Rattes foi o nome do programa formulado por sua secretaria em seguida ao último edital de cultura, quando ouviu diversas queixas sobre a concentração dos recursos da sua pasta na cidade do Rio de Janeiro. “O nome é meio careta, não?”, perguntou a secretária, antes de se dizer aberta a sugestões.



Mas essa foi uma das poucas queixas feitas por essa produtora que se projetou na cena cultural carioca graças à revolução de que participou junto ao grupo Estação Botofago, que redefiniu o modo de exibir e ver cinema no Rio de Janeiro. ”O PADEC é um programa arrojado e avançado”, afirmou ela para a sala ainda cheia de pessoas sequiosas por saber como poderiam colocar a mão nos recursos que a secretária estadual de Cultura estava disponibilizando para os 92 municípios do Rio de Janeiro. Para a secretária, o plano é um primeiro reflexo de uma idéia de se construir um plano estadual de cultura com os municípios, falando mais diretamente com as pessoas, descobrindo o que se pode esperar da cultura, não só para os produtores de cultura e pela cultura em si. “A cultura tem que ser vista como um instrumento de desenvolvimento econômico, social e principalmente humano, com uma visão mais ampla e reflexiva sobre o mundo”.


Um dos presentes pediu a palavra e foi direto ao ponto. “Nós queremos saber sobre os próximos editais”, disse. A secretária estadual de Cultura fez um breve histórico das ações de sua pasta, que só não colocou na rua uma segunda leva de editais porque sua equipe pretende evitar os eventuais erros cometidos nos editais de 2008, que contemplaram projetos que iam de blocos carnavalescos a grupos de teatro, passando pela dança, música, artes plásticos e audiovisual. “A intenção era lançar mais editais no fim do ano passado, mas preferimos ver e analisar cada erro e acerto de 2008, para melhorar nos próximos”. Adriana Rattes acredita que esse processo tenha fim em no máximo 45 dias. O próximo edital deve contemplar também projetos nas áreas de literatura, patrimônio e memória.

Antigas reivindicações

A plateia apresentou antigas reivindicações da cidade, como por exemplo a criação de um escritório da Secretaria Estadual de Cultura na Baixada, para que nossa classe artística tenha acesso aos programas em execução. ”Se vocês pedirem, nós viremos e montaremos uma semana de oficina, depois estabeleceremos um tipo de contato para ficarmos assessorando os monitores”, simplificou a secretária. A plateia também queria saber coisas menores, como a distribuição de passagens para o Teia 2010, um grande encontro nacional de pontinhos de cultura promovido pelo Ministério da Cultura. Ela riu quando alguns dos participantes desse encontro protestaram quanto ao ônibus disponibilizado pela Secretaria Estadual de Cultura para a viagem a Brasília.

Outra reivindicação feita pelos agentes culturais de Nova Iguaçu foi a criação de um calendário do que chamaram de espetáculos teatrais de qualidade para percorrer os bairros da periferia da cidade. ”É uma questão muito complexa e sem solução rápida para ela”, ponderou Adriana Rattes, para lembrar em seguida que dos 92 municípios do Rio de Janeiro apenas 24 têm algo que se parece com um teatro, com aspectos bastante precários. ”Não é simples montar estruturas móveis para levar a todos os municípios, que dirá para os bairros e comunidades de Nova Iguaçu?. O que se tem feito para começar a enfrentar esta questão é uma chamada pública de espetáculos teatrais, de música e dança. Os grupos se inscrevem e os espetáculos já montados são pagos para se apresentarem em outros municípios, com um preços bastante acessíveis”. Na prática, isso significa que ela não vai mover uma palha para criar o calendário reivindicado pela classe artística de Nova Iguaçu.

Um misto de professora e atriz pediu a palavra e, depois de um discurso emocionado, perguntou se a Secretaria Estadual de Cultura tinha em vista uma política de subsídio que pudesse contemplar agentes culturais como ela, que não acompanha a cena cultural do Rio de Janeiro por causa dos impraticáveis preços dos espetáculos. Adriana Rattes respondeu mais como produtora cultural e menos como secretária de Cultura. ”Todo o desconto de meia entrada vem descontado do produtor, é às custas dele”, ponderou Adriana Rattes, que não se mostrou disposta a pedir para a classe artística novas concessões porque sabe que mais uma vez eles teriam que aumentar os preços para compensar as muitas minorias beneficiadas com descontos. ”Quem não se beneficia desta meia entrada, paga um preço altíssimo por isso”. Adriana Rattes também não é simpática a esse tipo de ideia porque na prática quem tira proveito desses subsídios é a classe A, já que as instalações culturais estão em sua maioria na Zona Sul do Rio de Janeiro. ”Somente idosos da Classe A vão ao cinema, isso é estatisticamente. Portanto, políticas de subsídio para preços de ingresso, qualquer que seja, tem ser muito bem estudada, pois acaba criando deformações.”

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