Trupe dos órfãos

segunda-feira, 12 de julho de 2010

por Wanderson Duke Ramalho

No que diz respeito ao cenário musical, poético, cinematográfico e circense, a Baixada Fluminense – e principalmente Nova Iguaçu – sempre foi uma madrasta para aqueles que queriam manifestar sua arte. Estes mesmos artistas eram obrigados a se locomover para outras regiões a fim de difundirem seu trabalho: sentiam-se órfãos de sua terra-mãe. E inúmeros fatores contribuíam pra isso: a falta de apoio do governo da região e políticas públicas específicas voltadas aos primeiros fomentadores, da falta de um local que fornecesse visibilidade ao trabalho, ou mesmo a carência de uma cena independente, que ninguém acreditava ser possível construir em uma região conhecida por seus diversos problemas administrativos e, por isso, também não se tinha investimento do setor privado. Mas isso vem mudando.

Rua da Cultura

por Fernando Teixeira

Dia dez de julho de 2010, 14h00min, Rua Santos Filho, Miguel Couto - Nova Iguaçu. Hora do trabalho, hora da diversão! Aconteciam, ao mesmo tempo, duas grandes e aguardadas atividades no local. Eram elas: o início das aulas com as turmas de roteiro e animação na Escola Livre de Cinema e a movimentada festa caipira na Escola Municipal Ana Maria Ramalho.

Fronteiras da eternidade

por Renato Acácio

“Ninguém assistiu ao formidável enterro de sua quimera; somente ingratidão, essa pantera, foi sua companheira inseparável”. Com esse trecho de Versos Íntimos do poeta simbolista brasileiro Augusto dos Anjos, cujo trecho é um dos três títulos de que se tem notícia para o mesmo filme, é narrado por Glauber Rocha sobre o primeiro plano do filme Di. O plano em questão é um travelling em direção à direita de carro pelas avenidas do aterro do Flamengo, na cidade do Rio de Janeiro, e convida o espectador a ir junto com o cineasta ao Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro para o velório do pintor Di Cavalcanti, onde se passa uma das cinco locações totais do curta-metragem. Em contraposição ao primeiro plano, é feito um travelling em direção à esquerda sobre o caixão coberto por rosas vermelhas, onde repousa o corpo do pintor, para a câmera finalmente fixar no rosto de Di Cavalcanti, que tem em sua face um aspecto risonho e tranquilo. Já na junção desses dois primeiros planos é anunciada a intenção do filme, que tem a morte contemplada com outro olhar como temática, não só creditada à feição do pintor, pouco comum e obviamente livre da intervenção do realizador, mas também explicitada pelo movimento de câmera contrário ao anterior, na busca de um caminho inverso ao tratamento que é dispensado ao ritual fúnebre e também o registro desse tipo de cerimônia. Não obstante, a própria documentação audiovisual carrega um tom pitoresco no tipo de retratação da morte; um tabu, e é isso que Glauber Rocha parece pretender não só com a montagem, mas com todos os outros elementos constitutivos do filme. Ele realmente quer homenagear o pintor Di Cavalcanti, mas também quebrar esse tabu.

 
 
 
 
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