Clube dos livros

sábado, 16 de abril de 2011

por Marina Zuqui


Maicla Moura não tem apenas um nome estranho. Ela, que neste momento está lendo a "A cidade do sol", de Khaled Hosseini, também tem a estranha mania de trocar livros com as amigas da escola, com as quais forma uma espécie de clube. As amigas que frequentam este clube são Maria Carolina Loubak e Karine Bastos, que conheceu ao ingressar no ensino médio, há dois anos. "Quando Maria levou um de seus livros para a escola, eu, que sempre gostei de novidade, pedi emprestado."

O feijão e o sonho

por Dandara Guerra

Muitos sonham, mas é quase impossível viver da arte neste pais. Principalmente para um morador da Baixada.   Quem nunca se perguntou o que ia ser quando crescesse? A vida tem  fases - uma das quais é a angustiante escolha da profissão, durante a qual procuramos uma forma de ganhar dinheiro e ao mesmo tempo ser feliz. No meio do conflito, admitimos que nem tudo o que desejamos está ao nosso alcance.

Os amantes da arte conhecem a beleza de um quadro, da melodia das músicas, da interpretação de um ator ou simplesmente do equilíbrio de uma bailarina.  Integrar-se nas fantasias desse universo é algo semelhante a um vício, do qual é complicado desligar-se. 

São diversos os casos de pessoas que colocam arte em segundo plano, em prol de um retorno financeiro melhor, ou seja, de uma vida estabilizada.  A sensação não chegar a ser de perda total quando o artista abre mão do sonho  para se profissionalizar em áreas distintas da sociedade.

Sebastião de Oliveira, 47 anos, um morador de Mesquita, conhecido no meio artístico como Sabá, com seu jeito cativante e simples, sempre esteve envolvido em movimentos culturais ao longo da sua estrada, iniciada quando tinha apenas 13 anos. “O meu pai, senhor Antônio de Correia, era músico da maior qualidade, que tocava nas noites da Baixada. Me recordo como se fosse hoje da sua paixão pelo seu instrumento musical", diz ele, que  inicialmente foi proibido de tocar o violão do pai, sempre escondido dele. 

A estratégia utilizada por Sabá para dominar o instrumento tocado pelo pai  foi pegar uma caixa de papelão do supermercado e imaginei  quais seriam as posições das notas, que dedilhava igual um louco. O esforço do menino foi devidamente recompensado pelo seu Correia, como seu pai era conhecido. ”Ele viu que eu levava jeito, e me deu um violão."

Com o passar dos anos, Sabá formou-se músico na tradicional escola de música Villa-Lobos, no  Rio de Janeiro, além de ter participado em  variados festivais e ter tornado frequentador e músico de bares como Daniel’s Bar e Esotéricos Bar. “Foram momentos  maravilhosos que vivenciei nestes bares", conta ele, que tem uma lembrança particularmente boa do Daniel’s bar, onde conheceu pessoas incríveis e adquiriu experiência. 

Entretanto, há horas que a vida nos obriga a dar um rumo  profissional. No caso de Sabá, ele se viu dividido entre abraçar a carreira artística ou prestar vestibular para engenharia civil. “Meus pais me pressionaram", lembra ele, que se inscreveu num cursinho pré-vestibular com um enorme aperto no coração. "Tive exemplo em casa, onde pude  enxergar  a luta do meu pai."  O violão acumulou poeira até ele se tornar engenheiro, mas tão logo se formou ele voltou a tocar em bares da Baixada e, mais recentemente, da Lapa.

Outro exemplo é o da bibliotecária e professora de inglês Malena Xavier,  uma moradora de Comendador Soares de 44 anos que canta desde a infância, quando, com apenas nove anos, deu inícia à dupla com sua irmã Maria, que mais tarde chegaria em segundo lugar em um festival de Paracambi. Ela cantou na noite iguaçuana e chegou a gravar um cd, mas houve um momento em que abandonou a carreira e foi estudar na Universidade Federal Fluminense, onde a música ganhou o status de hobby. "Eu cantava no coral da universidade e nas festas dos meus amigos de faculdade", lembra a mãe do jovem repórter Lucas Xavier. 

É verdade que, ao lado do amigo Márcio Aquino, foi aplaudida de pé nas apresentações em bares em Maricá e no Flamengo, durante as quais cantava um repertório que ia da MPB à canção romântica francesa, pelas quais recebia R$ 150 por noite. Mas é com convicção que ela coloca a carreira musical em quarto plano, depois do duro ofício de mãe e dos igualmente duros ofícios de bibliotecária e professora de inglês. “Eu amo cantar, pois alivia o estresse de todo o meu cotidiano. Mas utilizo a música como um refúgio e não como profissão." Uma das poucas ocasiões em que se preparou como uma profissional foi na noite de 23 de julho do ano passado, quando comemorou os 50 anos do escritor pernambucano Julio Ludemir  e o centenário de Rachel de Queiroz com sete canções nordestinas, cantadas com o auxílio luxuoso de Marcelo Peregrino. "Só dei um intervalo em si”, brinca.
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O ator Társio Coelho, um morador de Nilópolis de 39 anos, também foi obrigado a trocar o sonho de uma carreira teatral pela luta comezinha pelo pão de cada dia. "Com meus 22 anos, cheguei a entrar em uma companhia de teatral, mas depois tive que arrumar um emprego", conta ele, que descobriu o prazer de atuar no palco na lona cultura da Barra da Tijuca.  Quis o destino, no entanto, que ele tivesse que se aposentar aos 37 anos, em consequência de um grave acidente automobilístico. e, com o horário vago, ele retornou para o teatro ainda mais animado. “Hoje em dia, estudando na escola de teatro Tim Lopez, me sinto contente por reviver este sonho, porém tenho plena consciência das dificuldades deste campo.” 

Sabedor das dificuldades da vida artística, Társio Coelho decidiu retornar também para a faculdade, matriculando-se no curso de direito da Estácio de Sá. “Não vou parar de lutar, mesmo aposentado. Sei que posso adquirir conhecimento", diz ele, que hoje atua na  companhia Encenadores Teatrais. "Nunca abandonei a arte. Só dei um tempo."

 
 
 
 
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