Devaneios, surpresas e saudades

domingo, 14 de agosto de 2011

por Vinicius Vieira


Nada como colo de vó. Aquele cheirinho de comidinha caseira, aquele ombro, aquele abraço e até mesmo aquele sermão. Ainda lembro de meus onze anos, morando com aquela velhinha doce e às vezes amarga que eu chamava de “Véia”. 

Lembro-me das inúmeras vezes que ela ligava de seu trabalho e dizia “tenho surpresas pra você” e eu enchia o saco da minha mãe dizendo pra ela contar o que era. Apesar de ter se tornado previsível que ela traria sempre um saquinho de pipoca e alguns bombons, a emoção de ver que a Véia se lembrou mais uma vez das “surpresinhas” pra mim, era enorme. Ela chegava e dizia: “Ó, trouxe pipoca e bombom, mas come escondido do seu pai porque ele vai brigar comigo”. Eu adorava aquele espírito aventureiro de ficar no quarto da vozinha e comer tudo antes do meu pai chegar do trabalho.

“Dona Lionir, a senhora tá estragando esse menino com todo esse mimo”, dizia sempre meu pai, depois de eu levar uma boa surra por ter quebrado alguma coisa dentro de casa e ia chorar no colo da Véia Lionir. Ela, tomando minha dor como sua, chorava junto comigo, dizendo que tudo aquilo era pra me educar e que não precisava chorar. “Mas vó, a senhora tá chorando também”, respondia. Ela ria e aquilo se tornava um momento de descontração.

A receita do guia

por Jéssica Oliveira


Para escrever não existe uma receita. Não é algo que se aprenda com um manual, obedecendo religiosamente às instruções da mesma maneira que se aprende a fazer um bolo enquanto a Ana Maria Braga cita os ingredientes e o modo de preparo. 

Entretanto, é possível dizer que escrever assemelha-se a arte de cozinhar. Não se nasce sabendo, mas a prática ajuda. Obviamente algumas pessoas possuem facilidade maior ao escolher, picar, temperar e criar deliciosos pratos, maravilhando aqueles que provarão do mesmo e oferecendo o inigualável prazer da culinária.

Particularmente, sou péssima na cozinha. Nunca consigo acertar todos os importantes passos e ter a devida atenção e sagacidade quando o assunto é fogão. Sou um desastre até mesmo no preparo de um simples e rápido macarrão instantâneo. Na cozinha, só entro para lavar a louça, ajudar minha mãe descascando legumes - com extremo cuidado para não me cortar - e, é claro, comer. No entanto, sei que poderia ser melhor se me esforçasse e dedicasse algumas horas do meu dia a esta prática, mas o que posso fazer se não me sinto nenhum pouco atraída pelas panelas? Pelo menos não da mesma forma que me sinto atraída por um lápis e uma página em branco.

 
 
 
 
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